A administração pública deve ter sua natural extensão na iniciativa privada quando o assunto é preservação ambiental e esforços para resgatar o equilíbrio na natureza. A cobertura vegetal degradada em todo o Estado, ainda mais fortemente nos perímetros urbanos, traz consequências graves que demandam anos de trabalho árduo de recuperação. O sinal de alerta é dado a cada ocorrência de animais silvestres em vias públicas, córregos e ribeirões que secam ou são assoreados, o gradiente térmico se eleva nos centros urbanos, mostrando que as respostas da natureza afetam grandemente a qualidade de vida dos cidadãos.
Em seminário realizado nesta semana sobre os recursos hídricos e florestais da Região Metropolitana de Campinas (RMC), o estresse ambiental foi abordado por técnicos especializados, que apontaram o estado crítico das reservas locais, sendo que a cobertura vegetal chega a 2% da área, mais notadamente em Santa Bárbara d’Oeste, Sumaré e Hortolândia, seguidos de Campinas, Americana e Artur Nogueira com 5%, em fragmentos que impedem a formação do habitat ideal.
Estima-se que a estabilidade ambiental requer no mínimo 30 hectares contínuos. A falta de continuidade leva ao comprometimento do habitat de animais silvestres, que fogem em buscam de extensões territoriais convenientes e acabam se perdendo, procurando abrigo nas cidades. Tanto assim que têm sido comuns aparecimento de animais e aves no perímetro urbano, em contraste com sua natureza, desde capivaras, onças a gaviões e saguis. Estes são os primeiros passos para a extinção das espécies que não conseguem adaptar-se ou sofrem a perseguição humana.
O quadro não é animador e os investimentos, raros. O Estado de São Paulo tem projeto de aumentar a cobertura vegetal para cerca de 20% da área, o que significa 1,7 milhão de hectares de mata ciliar em quatro anos. É um bom sinal que avança no sentido de criar uma consciência ecológica, ao amparar projetos de revitalização das margens de rios e córregos. Mas o desmatamento cravou profundas marcas no mapa do Estado e agora é preciso despender um longo período para reverter a situação.
Neste ponto, estreitam-se os interesses dos governos e administrações municipais com a iniciativa privada, onde se pode incutir a necessidade das compensações ambientais e estímulos a projetos de reflorestamento. E também são bem vindos recursos derivados de organizações como o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que espera antecipar R$ 3,08 bilhões em investimentos para reverter a degradação das águas das bacias oferecendo como garantia os recursos da cobrança do uso da água dos rios federais e estaduais. O foco de recuperação ambiental, mesmo focado na recuperação da qualidades da água captada, tem derivação em reflorestamento e em restauração da mata ciliar, o que já é um bom começo para refazer a cobertura vegetal no Estado.
(Correio Popular, 17/4)
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