A política é a arte de convencer as pessoas de seus propósitos e intenções, usando dos recursos do encantamento pelas palavras, o arrazoado sólido, a firmeza de ideias e a habilidade de construir uma linha de argumentos que possa fazer os demais mudarem de posição e adotarem seu ponto de vista. Fora destes padrões de exercício de direitos, a imposição de conceitos leva inexoravelmente ao totalitarismo, às ditaduras espúrias, à noção de poder que desconsidera os mais comezinhos princípios de democracia.
A América Latina tem um histórico de intervenções políticas desastrosas, que subjugaram os povos a regimes ditatoriais violentos que legaram um passivo de atraso, de falta de educação, de submissão a culturas exógenas, de descaracterização de gerações inteiras. Os países sul-americanos são marcados pela imagem de colônias exóticas, de caudilhismo e golpes de estado que se sucederam por décadas, despertando apenas um interesse de exploração econômica pelo países do Hemisfério Norte. Os anos de retrocesso apresentam uma conta alta a ser paga pelas novas gerações, uma necessidade a ser coberta por investimentos em educação, amadurecimento político e civilidade crítica.
Em alguns países, recrudesce o espírito caudilhesco que aposta na passividade crônica da massa ignara, que não distingue políticos de líderes populistas e aceita de mão beijada pequenos favores. Neste meio, surgem presidentes como Hugo Chávez, com seu destempero verbal e intelectual, e Evo Morales, legítimo representante de um povo que busca ansiosamente a sua reconstrução como nação, que se aboleta no discurso de atraso de seu colega venezuelano.
A greve de fome deflagrada por Morales é mais um lance de puro histrionismo latino. Na falta de articulação política, o presidente boliviano lança mão da pressão extrema para obrigar aos opositores a votar uma nova lei eleitoral que permita convocação de eleições gerais para dezembro, quando tentaria a sua reeleição. O recurso é radical, mas nem por isso é novidade: Morales já usou a tática 18 vezes em sua vida de sindicalista.
Usar o recurso da greve de fome é covardia, porque transfere para seus opositores a responsabilidade sobre a vida daquele que protesta. Revela fraqueza de caráter e espírito totalitarista, de alguém que quer impor sua vontade acima de qualquer discussão. A greve de Morales não encontra parâmetro no esforço de Mahatma Ghandi, outra cultura e outro contexto, além do que o indiano pretendia levar seu intento até a morte. É mais próxima do patético protesto do ex-governador Garotinho.
(Correio Popular, 14/4)
4 comentários:
Se a oposição quer se livrar do índio velho, eis a oportunidade. É só deixar de fazer o que ele quer, que se o cabra for macho mesmo leva a greve de fome até o fim. Literalmente!
Vamos fazer uma greve de fome para ele não interromper mais suas greves de fome?
Que nada, Xyko Motta. Vamos torturá-lo traçando um belo churrasco com cerveja gelada ou uma suculenta feijoada bem na frente dele. É uma pena que a essa altura Morales já tenha desistido da greve de fome sob a alegação de que se "entendeu" com a oposição. Certa vez, no antigo "Vale Tudo" do Silvio Santos, ninguém conseguia fazer um jurado mudar de expressão. Parecia guarda real inglês. Até que um candidato chupou limão na cara dela. Ganhou o prêmio.
Evo Morales e Hugo Chávez têm algo em comum. Ambos me lembram Odorico Paraguaçu, aquele político caricato que a tevê imortalizou nos anos 70 e 80 na série "O Bem Amado" e que é revivido pelos presidentes da Bolívia e da Venezuela.
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