quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Mais reflexões sobre Chávez
A América Latina está longe de se afirmar como um conglomerado de países finamente articulados em um propósito comum, uma linearidade de ações e uma convergência de intenções. Com uma imagem forjada na pobreza e no isolamento em relação ao hemisfério Norte, as repúblicas de bananas de multiplicaram em discursos anacrônicos, em ditadores caudilhescos, em economias frágeis de base primária, dependentes da intervenção e apoios externos.
Nem mesmo as transformações de um mundo globalizado, onde as fronteiras econômicas se rebaixaram, trouxeram ares de modernidade, havendo nichos onde ainda prevalecem culturas arcaicas, ênfase no poder controlador do Estado, alimentando políticas paternalistas que condenam os cidadãos a um nível de consciência menos crítico, envolto em entusiasmos messiânicos como a esperar a cada novo patrón as decisões capazes de mudar o mundo para melhor.
É no meio de tantos anacronismos que se sustentam figuras esdrúxulas como o histriônico presidente Hugo Chávez, que faz da Venezuela o seu quintal de vaidades, arrogando-se uma importância de líder que manipula os dados políticos na tentativa de legitimar um poder que já se estende por longos dez anos, já com características de se estender indefinidamente. A comemoração do decênio foi marcada por entusiasmadas manifestações de correligionários e simpatizantes, espalhados por todo o mundo em núcleos de resistência.
O comportamento de Chávez é emblemático. Em nome de uma pretensa revolução bolivariana para implantação do socialismo do século 21 - em versão nanica projetada pelo próprio - o caudilho vai se afirmando como influência nefasta além das suas fronteiras. Já se pode notar seus trejeitos nos discursos de Evo Morales e Rafael Corrêa, que rapidamente acederam simpaticamente à atrapalhada noção de autodeterminação e consciência de união regional identificada por um viés de esquerda.
São suspeitos os apoios manifestados à política continuísta de Chávez. Do Brasil, as representações de esquerda mais retrógradas se manifestam simpaticamente, e até o presidente Lula prestou-se a fazer campanha pela indicação de mandato indefinido para seu companheiro, esquecendo-se momentaneamente da vocação democrática que deveria orientar os governos legítimos e respeitadores constitucionais. Hugo Chávez é um ditador que manipula a opinião pública através de um parlamento situacionista, do amordaçamento da imprensa, fechamento de emissoras de oposição, do uso da força e da pressão para impor seus interesses pessoais e do grupo que o apoia. Nem mesmo os arroubos populistas contra o governo norte-americano, frequentemente chamado de império do demônio, são verdadeiros, mas uma pantomima que se contradiz nas parcerias comerciais e econômicas entre os dois países.
Ao completar 10 anos no poder, a lição deixada pelo chavismo na América Latina é de aversão ao totalitarismo de esquerda, pelo fim de governos caudilhos e com intenções ditatoriais, que outorgaram anos de atraso à região, com raras exceções como a brasileira, onde o respeito às instituições ainda prevalece e ancora a inserção no mundo civilizado.
(Correio Popular, 5/2)
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