quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
A busca de uma cultura de paz
Quando alguma voz se levanta para denunciar os atentados contra a paz, sempre é preciso dar ouvidos ao que a sociedade exige como medida de proteção e como parâmetros de justiça. A falta de segurança não é apenas a questão da agressão pessoal, individual, é fruto de um contexto mais amplo que exibe a falta de uma política de segurança pública, a dificuldade de diagnosticar os elementos que levam à violência, a instabilidade moral e ética no meio educacional, empresarial e, especialmente, no político.
A propor a Segurança Pública como tema da Campanha da Fraternidade deste ano, a Igreja Católica brasileira se coloca como interlocutora de um movimento urgente pela construção de uma cultura de paz e de busca de um bem comum. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) optou, desde 1973, por dar um enfoque social aos temas adotados, dando espaço à discussão das questões que afetam diretamente as comunidades, relacionando os assuntos que merecem reflexão não apenas no contexto religioso institucional, mas refletem uma preocupação geral da sociedade.
O lema da campanha pinça um texto bíblico do Livro de Isaías, que ressalta que a paz é fruto da Justiça. Neste repto, são colocadas em pauta questões como a violência na vida das pessoas, a responsabilidade de cada um diante dos problemas, os crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, a impunidade de parlamentares e o sistema penal brasileiro. O amplo leque de abordagens permite equacionar a Segurança Pública dentro de uma perspectiva abrangente, a partir da inquietação detectada nas bases pastorais.
Independentemente de ter um berço ideológico e religioso, amparado pela Igreja Católica, a campanha é altamente oportuna, trazendo à reflexão temas que são capazes de motivar ações moralizadoras, de resgate do direito individual e coletivo, mobilizando uma parcela considerável da população brasileira capaz de irradiar propostas concretas e envolventes, cobrando providências e elevando o senso crítico das pessoas em relação à segurança de modo geral.
A sociedade tem engasgados os motivos que têm adiado o enfrentamento de questões vitais que impedem a distribuição de justiça e as garantias de cidadania. No plano político, de onde deveriam partir políticas públicas de segurança, sobressaem os exemplos de corrupção, de alheamento aos problemas nacionais, de ofensiva indiferença em relação às necessidades dos cidadãos. Uma mobilização deste porte é capaz de, finalmente, estabelecer um padrão de cobranças compatível com a capacidade de argumentação cívica.
É importante que o debate extrapole a circunscrição dos católicos e se some a iniciativas semelhantes em todos os setores da sociedade, finalmente engajada em um processo transformador que coloque em xeque os desacertos institucionais e fortaleça uma rede ampla capaz de transformar a realidade, superar as causas da violência e implantar uma efetiva e abrangente cultura de paz.
(Editorial Correio Popular, 25/2)
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