terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A guerra no trânsito e civilidade


Os conceitos de civilidade não se afirmam por decreto, são consequência de um longo processo de educação, de base de convivência respeitosa, de ter no direito individual e coletivo os parâmetros que definam os limites e bases do comportamento em sociedade. As tradições enriquecem a moral individual e coletiva, mesmo que possam vergar por conta de novos princípios incorporados na dinâmica da evolução.


O que melhor caracteriza os países de Primeiro Mundo, além de sua inserção privilegiada no mundo econômico globalizado, são as relações de civilidade entre as pessoas. Tanto quanto mais educados os povos, melhores se apresentam as relações comunitárias, com exemplos de convivência ajustada e organização harmoniosa. Quando o limite é estabelecido pelo egoísmo, pela individualidade, pelo desrespeito ao próximo, surgem os inevitáveis conflitos que nem sempre são resolvidos da melhor maneira.

Se há um ponto que aufere adequadamente o grau de civilidade, o trânsito é onde melhor se revelam as qualidade da sociedade. No Brasil, é nas ruas que o povo mostra a sua face mais desorganizada, calcada no improviso e na falta de disciplina. Ostentando estatísticas altíssimas de acidentes, acumulando vítimas em hospitais, colecionando histórias de conflitos e agressões provocados pelo estresse da desorganização, o trânsito no País é uma verdadeira guerra que se trava todos os dias.

Os conflitos entre motoristas e pedestres são constantes. A demarcação de áreas de estacionamento proibido ou reservado para deficientes ou idosos é frequentemente ignorada e as faixas de pedestres em muitos casos parecem mero adorno pintado nas vias. Os semáforos são obedecidos apenas à custo de ameaça de multas e ainda assim os avanços proibidos são as maiores infrações cometidas no município.

O que é necessário é um banho de civilidade para todos os cidadãos. Um processo que começa com um trabalho educativo sério, abrangente e constante, que invada as escolas para formar uma geração mais consciente. É preciso que os motoristas e pedestres sejam motivados a comportamento educado e de respeito, na busca real de uma convivência pacífica. E as autoridades de trânsito devem estar atentas ao cumprimento efetivo das regras estabelecidas, promovendo correta sinalização, adequação de vias, organização de estacionamentos, de modo que a colocação de radares e as multas aplicadas tenham verdadeiro sentido disciplinador, afastando a sensação de que tudo tem um sentido de apenas manter arrecadação para uma estrutura que se mostra ineficiente para ordenar o sistema.

(Correio Popular, 17/2)

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