sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A ingerência do Planalto nas crises



A crise política brasileira parece interminável, a cada dia se somando um fato novo que contribui para emporcalhar ainda mais os ares de Brasília, mostrando práticas que deturpam o verdadeiro sentido da vida pública e que se encontram presentes em todas as ramificações possíveis, desde as Câmaras Municipais até o Palácio do Planalto, denunciando um perfil político nada lisonjeiro.

Os episódios de denúncias não podem ser analisados sem se estabelecer uma relação de causa e consequência. Seria ingenuidade total imaginar que o caso do mensalão se restringia aos fatos narrados à época e nada têm a ver com os acontecimentos de hoje. Também não se pode colocar um abismo separando os palcos onde os atores envolvidos são denunciados. A crise do Senado tem raízes na eleição da Câmara Federal, tem laços com a candidatura de Dilma Rousseff à presidência, se originou nas disputas internas nos partidos, e pode ser encontrada no troco das alianças espúrias realizadas em nome da governabilidade pragmática do governo Lula.

Em nome da manutenção do poder, tudo é válido, no pensamento que rege hoje as relações político institucionais da República, tendo como consequência a anulação do caráter ideológico dos partidos, hoje meras agremiações para a consolidação burocrática de candidaturas. Neste sentido, o presidente Lula usa e abusa de seu prestígio supreendente em alta, ele próprio um poço infindável de contradições e meias-verdades, mudando de posição e ideias com mais frequência com que troca o terno que substituiu a roupa de operário. Defensor das alianças políticas pragmáticas, o presidente já foi surpreendido nos dois lados da moeda, ao defender qualquer acordo para atingir objetivos, e posar de político sério realçando a coerência ideológica como padrão de governabilidade.

Ao empenhar apoio irrestrito ao presidente do Senado José Sarney, Lula patinou entre a arrogância e a autopreservação, cuidando habilmente de manter os vínculos com o colega de negócios e manter-se prudentemente afastado da crise, ao sabor das conveniências. Chegou a afirmar não ter votado em Sarney para a presidência do Senado, tampouco para senador do Maranhão (sic). Assim tem sido também no episódio da denúncia da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que acusa a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de tentar interferir inconvenientemente em fiscalização de empresas do clã Sarney. Lula foi ágil em colocar a palavra da ex-funcionária em dúvida, em rápida defesa de sua apadrinhada, não surpreendendo que daqui a pouco venha afirmar não ter qualquer vínculo com o assunto.

O episódio, menor entre tantos escândalos recentes, expõe aos mais atentos o grau de ingerência do Planalto na história recente, ainda que habilmente blindado contra os respingos de responsabilidade sobre o caos que se instala. É de ser ver até onde esta resistente popularidade poderá levar.

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