segunda-feira, 30 de março de 2009

A violência comprada nas esquinas


A liberdade de expressão é um dos maiores direitos que se pretende atingir em um estado democrático pleno, com respeito aos indivíduos e à sociedade. Cada cidadão terá acesso a qualquer forma de comunicação a seu próprio julgamento e interesse, da mesma forma que poderá se manifestar livremente, sem qualquer restrição de ideologia, forma ou alcance. O único embaraço que se pode colocar é o limite que a própria sociedade exige para conter excessos que agridam os direitos e interesses ditados pelo consenso da maioria.

Na esteira da conquista de espaços de expressão cultural, navega-se sempre pela linha tênue do limite do permissivo, da fronteira entre o conservadorismo e da transgressão, da provocação intelectual que leva a mudanças que são assimiladas pela sociedade em escala de evolução, desenvolvimento. A separação do joio se dá pelas regras estabelecidas pelo bom senso, pela aprovação ou rejeição das propostas, pela legislação específica que deixa claros os limites de intervenção no status quo.

A reportagem publicada no Correio Popular, sobre um jogo de computador que se pode comprar livremente em camelôs de Campinas, mostra o absurdo a que pode chegar a manifestação humana, com propostas degradantes e de consequências extremas. O game Rapelay foi desenvolvido no Japão e é vendido clandestinamente no Brasil em cópias pirateadas, sem que qualquer ação policial possa conter o abuso contido no desafio, que deveria ser um instrumento de lazer e diversão, pelo mínimo.

O jogo eleva a níveis assustadores a falta de espírito crítico e mau gosto, ao propor aos participantes ações como estupro de uma mulher e de suas filhas adolescentes, aborto e muita violência embutida em cada etapa do jogo a ser cumprida. A repulsa a este tipo de material já foi manifestada em todo o mundo e o Ministério Público Federal está investigando a comercialização do Repelay, embora a legislação brasileira seja frágil para barrar este tipo de abuso.

Em tempos em que se procura trazer ao debate público questões importantes como o aborto, as relações pessoais, a diversidade sexual, as ações reacionárias e até mesmo a busca de novos padrões de comportamento, uma provocação deste nível não traz nenhuma contribuição. Pelo contrário, segundo especialistas, o caminho é da banalização da violência, a minimização das consequências dos atos, a demonstração de que a aferição de valores se dá quando se leva vantagem sobre os demais, a qualquer custo.

A fragilidade da lei, a dificuldade de ação policial, a falta de controle sobre a comercialização de produtos de qualquer natureza repassa ao cidadão comum a preocupação de autoproteção, criando barreiras familiares contra este tipo de agressão gratuita, diante de uma ameaça que pode ser encontrada em qualquer esquina ou em uma lanhouse frequentada por adolescentes.

(Correio Popular, 30/3)

Um comentário:

Lotito disse...

Amigo Rui

Desconhecia essa nova praga. Como dizia o saudoso Paulo Francis, - "Não vi e não gostei".

Realmente causa preocupação a possibilidade de uma diversão como esse infeliz jogo citado por você o tal de Repelay, produzido por medíocres para "diversão" de seus iguais, influir de uma maneira profundamente maléfica sobre mentes em formação ou já deformadas pela falta de educação familiar/escolar/social a que assistimos.

É praticamente impossível a contenção da distribuição clandestina, a única saída será a conscientização de pais e filhos para o repúdio a esse e outros tipos de incitação ao retorno em direção a barbarie, tais como drogas, corrupção ativa e passiva, falta de cidadania, etc...etc...etc...

Vamos continuar lutando contra a maré.