O Brasil é uma nação que acumulou um altíssimo passivo social através de décadas de crises, desgovernos, políticas equivocadas, economia desestruturada, deixando a sociedade à míngua em setores essenciais e primários, com uma fatura a ser resgata à custa de muito investimento, vontade política e com os frutos de um longo período de estabilidade. Cada governo que se sucedeu nos últimos cinquenta anos deu ênfase ao atendimento amplo à população mais carente através de programas que variaram dos financiamentos subsidiados ao mais puro assistencialismo do Bolsa Família.
Dentre tantas carências, o setor habitacional vem acumulando um déficit extraordinário desde o fim dos programas de financiamento que permitiam o acesso à casa própria em condições facilitadas e o Sistema Financeiro da Habitação assumiu o seu lado estritamente financeiro. Também não têm o mesmo vigor as empresas e cooperativas que na segunda metade do século assumiam a construção de núcleos habitacionais, espalhando canteiros de obras em praticamente toda cidade, oferecendo casas a preço acessível a trabalhadores comuns.
Aproveitando-se do momento propício para o anúncio de medidas de impacto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o Plano Nacional da Habitação, ambicioso projeto que prevê recursos de R$ 34 bilhões para financiamento e construção de 1 milhão de casas para famílias com renda de até 10 salários mínimos.
O anúncio foi bem recebido por empresários e entidades ligados à construção civil, calculando de forma otimista os investimentos e os empregos gerados, uma vez que o setor é apontado como um linimento em momentos de crise pela capacidade de giro financeiro em curto espaço de tempo e abertura de vagas de trabalho em larga escala.
O caminho apontado pelo governo federal parece adequado e oportuno, agindo de forma rápida e incisiva na economia de produção. Surpreende que o presidente Lula tenha formatado a proposta de forma leviana, sem explicitar a origem dos recursos, a forma de repasse e, fundamental, os prazos de execução. Quanto a isto, Lula foi claro ao refutar qualquer cobrança sobre quando o programa terá seus efeitos, deixando clara a vocação político-eleitoral do anúncio, até porque um projeto sem prazo não passa de intenção. O que se espera é que, mesmo que o impacto não seja o desenhado, pelo menos tenha o efeito de movimentar a economia além dos discursos de palanque.
(Correio Popular, 27/3)
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