sábado, 20 de dezembro de 2008
Solidariedade e malandragem
Os brasileiros têm dentro de si uma chama acesa pela solidariedade, o amor ao próximo e o desprendimento, não sendo incomuns os registros de atitudes que mostram a capacidade do povo de se mobilizar em benefício de outros, com uma amizade desinteressada, desapego material, como uma grande irmandade unida pelas cores nacionais. Estas atitudes de cidadania são patenteadas em todo o trabalho voluntário que é desenvolvido, a maior parte das vezes anonimamente, dando suporte a organizações não-governamentais, instituições e entidades filantrópicas que se desdobram para cobrir a ausência do Estado no suprimento das necessidades das comunidades mais carentes.
Quando uma tragédia como a de Santa Catarina se abate sobre o País, chega a se comovente a mobilização nacional para levantar fundos, alimentos, roupas e materiais para atender aos milhares de desabrigados, muitos dos quais perderam todos os bens na fúria da natureza que castigou a região Sul. Aos primeiros apelos de socorro, comunidades inteiras se mobilizaram para enviar por todos os meios as doações que brotavam do sentimento de compaixão. O auxílio se materializou em pouco tempo, da mesma forma que se formou um exército de voluntários junto aos desabrigados e mesmo em municípios distantes, coordenando as ações de arrecadação. O exemplo foi digno e mostrou a capacidade do povo brasileiro de atender necessidades imediatas, antes mesmo das autoridades mostrarem preocupação oficial com o problema.
Todos os brasileiros que se engajaram neste mutirão de cidadania receberam nesta semana um tapa cara. A notícia de que um grupo de voluntários e soldados do Exército foi flagrado furtando donativos de um posto de arrecadações da Defesa Civil de Santa Catarina, em Blumenau, causou asco e profunda indignação. É incompreensível que pessoas chamadas ao trabalho solidário dêem demonstração de tamanha vileza e falta de consideração, agindo como bandidos, com o agravante de prejudicar pessoas altamente necessitadas e em situação de desabrigo.
O caso teve a repercussão merecida, toda a sociedade se sentiu atingida e espera que os envolvidos sejam exemplarmente identificados e presos. O furto de doações humanitárias é de uma atitude vil e deve ser punida com rigor, daí a oportunidade do projeto de lei defendido pelo deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) que eleva para oito anos de detenção a pena.
Se a indignação é a tônica deste episódio, existe ainda uma resposta à altura que restabelece a ordem natural e reflete o pensamento positivo da maioria. A família de um agricultor da região de Alto do Baú recebeu um casaco em doação, onde foram encontrados por uma criança R$ 20 mil costurados na manga. Mesmo em evidente situação de dificuldade, a família de Manoel da Silva não titubeou e providenciou a devolução do dinheiro ao doador da roupa. Estes são os exemplos que devem ficar de toda a tragédia. Para cada ladrão inescrupuloso e sensível existe uma multidão de pessoas realmente solidárias que hoje se dão o direito de expressar profunda indignação e pedir justiça. Mas certamente estarão a postos a cada novo chamado humanitário.
(Editorial Correio Popular, 20/12)
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