terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A arte como elemento de transformação


As atividades culturais sempre foram um patrimônio do povo relegado a pequenos grupos que se comprazem em observar manifestações artísticas com o mesmo deleite com que acompanham o desenvolvimento pessoal, as transformações sociais, os símbolos da sociedade. Acreditar no poder de transformação das artes é consenso, mas dar suporte aos artistas geralmente passa ao largo das preocupações dos burocratas. A cultura como um todo é ainda considerada objeto de consumo de privilegiados, de baixa prioridade, de urgência menor.


Como a arte não se resume a investimentos e empreendimentos, ela sobrevive na criação de grupos ou indivíduos, nasce nas esquinas, nas academias, nos espaços mínimos, ela resiste e existe como se bastasse a si mesma e a seus autores, que lutam para levar o seu legado a um número cada vez maior de pessoas. E contra os desmandos e desinteresse institucionalizados, sempre surgem os abnegados pequenos heróis que não se contentam em transformar a vida das pessoas através de sua arte e se tornam empreendedores em nome de seu ideal.

É o caso da bailarina campineira Juliana Omatti que banca do próprio bolso a reforma do teatro do Colégio Culto à Ciência, e da diretora de escola Eliane Corral, de Americana, que dedicou um espaço ao teatro homenageando seu ídolo Paulo Autran, ambas objeto de reportagens do Correio Popular na quarta e quinta-feiras da semana passada, em demonstração de que quando o interesse é maior, não basta apenas reclamar a parte que lhes cabe da iniciativa oficial. Colocando investimento e interesse próprio em seus projetos, ambas deram demonstração inequívoca do quanto se interessam pela cultura e como o empreendedorismo pode servir de respaldo para atingir um número maior de pessoas, ao tempo em que dão um claro e direto recado aos governantes inadimplentes com o grande público que se alimenta se cultura.

Em países modernos e com educação para a cultura em alta, a participação da cultura nos orçamentos é significativa, dando base e sustento para inúmeras manifestações, incrustando na rotina popular etapas de avanço intelectual inestimável. Em sociedades mais carentes de investimentos em setores básicos e essenciais, não é incomum que os orçamentos de cultura estejam no sopé das prioridades. É o caso do Brasil, onde o próprio presidente gaba-se da própria falta de cultura e onde não faltam críticos que advogam investimentos em infra-estrutura de saúde, educação, habitação e transportes, como se atividades artísticas não tivessem qualquer valor. Este é um quadro que precisa mudar urgentemente.

(Editorial Correio Popular, 2/12)

Nenhum comentário: