segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O embargo que sobreviveu à Guerra Fria
Os países latino-americanos passam por um momento histórico importante de busca de sua própria identidade e de inserção maior no mundo globalizado, alternando discursos ranzinzas e vazios com tentativa de formar blocos de acordo com suas características. As lideranças procuram se mostrar coesas na tentativa de valorização do potencial da região, alegando uma identidade comum para a construção de um novo estado político e econômico.
Neste momento, sobressaem-se algumas personalidades marcantes como Evo Morales, Rafael Corrêa e o protoditador Hugo Chávez, com seu discurso de um estado bolivariano segregado do restante do mundo, arrogantemente impostos pela bolsa dos petrodólares inseridos em sua economia. Ao seu lado, Luiz Inácio Lula da Silva se apresenta como a mais importante liderança na região, à frente de um País em evolução, com uma economia estável, um estado político institucionalmente firme e problemas totalmente distintos dos demais. Um contexto bastante diferenciado do que quer fazer crer a pregação de uma hegemonia regional.
Em insossa tentativa de demonstrar ao mundo uma integração latina, os chefes de Estado destes países se reuniram na Costa do Sauípe na Cúpula da América Latina e Caribe, em encontro na semana passada marcado pela inusitada presença de Raúl Castro, recebido com honras e reverência na qualidade de sucessor de seu irmão Fidel na presidência da ilha de Cuba. A reunião teve apenas caráter político, ao cabo do que poucas conclusões realmente importantes e efetivas foram formalizadas, sobrando eloqüentes discursos anti-imperialistas que, de resto, respingaram no próprio anfitrião Lula. O Brasil vive hoje situação de exceção entre os países latino-americanos: sua economia, a política externa, seu poder de comércio em todo o mundo – e em especial na América do Sul – leva à instalação de várias empresas além fronteiras, protagonizando já alguns embates diplomáticos, mais recentemente com Venezuela, Bolívia e Equador.
A incômoda posição de Lula, que se prestou a oferecer palanque para o histrionismo de Chávez, teria fadado ao fracasso a cúpula não fosse o discurso final pelo fim do embargo econômico a Cuba, uma excrescência remanescente do período da Guerra Fria que se mantém graças ao comportamento radicalizado dos norte-americanos ao lado dos expatriados em Miami e à insistência de Cuba manter à revelia a única ditadura das Américas. Ao tomarem partido do fim do embargo, os chefes de Estado reunidos revelaram disposições não muito afinadas. Se para alguns a libertação econômica de Cuba pode representar um novo tempo para o sofrido povo cubano, caminhando no sentido da autodeterminação política, para outros como Chávez a quebra do embargo é mais munição para a satanização dos Estados Unidos.
É mais do que tempo de mudar o quadro político no Caribe. Esta é, inclusive, uma das expectativas da posse de Barack Obama, até porque a ilha é importante estratégica, econômica e culturalmente. Resta saber até aonde Raúl Castro pretende chegar com as mudanças recém introduzidas após o afastamento de Fidel, este sim o ícone da ditadura e da política retrógrada que está levando a ilha do paraíso revolucionário ao inferno.
(Editorial Correio Popular, 22/12)
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