De há muito os meus pensamentos não se alinham com a Igreja Católica. Tenho para mim que temos diferenças irreconciliáveis, que freqüentemente nos levam para campos opostos, a ponto de atribuir ao regrado do Vaticano grande parte da responsabilidade sobre o sentimento de culpa, a mortificação, o achatamento intelectual, a anulação individual e a ritualização alienante que acomete a civilização ocidental.
Antes que atirem a primeira pedra, obviamente defendo o direito de cada cidadão cuidar da própria vida como lhe convier, eleger a sua religião, denominar-se de qualquer sectarismo. Mas ainda vejo com ressalvas aqueles que estão imbuídos profundamente de uma fé que não resiste à medida mínima que a razão exige para questionar. Os fundamentalistas e os alienados, para deixar mais claro. Aqueles que professam uma fé sem responsabilidade intelectual.
A presença marcante do dogmatismo católico no nosso meio autoriza qualquer um questionar ações emanadas pelo Vaticano, já que reproduzem um manual de conduta que acaba atingindo a sociedade civil, que se diz religiosa, mesmo sem freqüentar uma igreja há anos, exceção a festas sociais, como casamentos. E a Igreja Católica, hoje personificada pelo papa Bento XVI, tem pautado estas regras pelo retorno incondicional ao tradicionalismo.
Acho correta a posição do pontífice alemão. A Igreja não deve ceder aos costumes, as pessoas é que devem seguir a Igreja. É isto: o modo como as pessoas devem proceder é emanado da interpretação bíblica e documentos conciliares. Quem aceita, segue. Caso contrário, se afasta. Não é o que vemos, com tantos católicos declarados antagonizando suas crenças em sendas do espiritismo, por exemplo.
Agora, o Vaticano endurece as regras, e dirige um de seus canhões doutrinários contra o homossexualismo. Uma tardia resposta aos escândalos de assédio sexual nas sacristias, chaga secular sempre escondida (Ratzinger bem sabe disto), e que agora vem à tona em borbotões. Fazem crer que, limitando o acesso de homossexuais à ordenação, o problema será contido. Ao agir corretamente – tomando posição firme contra o comportamento que considera anti-natural – o papa assume um regime de tal grau de intolerância e preconceito que em nada ajuda ao debate da questão.
Se o homossexualismo é errado – e quero crer que sim – não é fechando as portas das igrejas que as pessoas poderão ser orientadas, tratadas como irmãos, compartilhando a mesma fé. Se a igreja deve seguir o seu rumo firme e sem vacilos como quer o novo papa, mesmo que navegando em águas tormentosas, não pode deixar de ir ao encontro dos seus fiéis, compreendendo o mundo como ele é na vida real, não como está pintado dentro dos altos muros da tradição.
Em tempo: a cantora Daniela Mercury foi impedida de se apresentar em concerto de Natal no Vaticano, diante do papa. Ela é embaixadora da ONU e participa ativamente das campanhas da organização no combate à Aids e defende o uso de camisinha na prevenção de DST. A igreja condena o uso do preservativo entendendo que o método pode incentivar a promiscuidade.
Este rigor não impediu, no entanto, que o cantor Roberto Carlos, que casou-se várias vezes, fizesse show para o papa no Rio de Janeiro. O evento? Segundo Encontro Mundial das Famílias. Belo exemplo.
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Um comentário:
Sou batizado na Igreja Católica. Fiz minha primeira comunhão há quase 40 anos. Frequento eventualmente missas. Até o presente momento, nenhum católico ou evangélico que bata às portas de minha casa e me questiona sobre meus conhecimentos da Bíblia conseguiu me dar uma resposta simples e direta à pergunta: Quem foram as noras de Adão e Eva?
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