segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A inspiração de mudar na nova geração

A construção de um estado democrático, por emanar da vontade popular, implica no envolvimento profundo da sociedade em todas as fases do processo, desde a conscientização de todas as gerações até a formulação de métodos que respeitem o desejo da população e alcancem o mais alto grau de representatividade. No Brasil, o descrédito da classe política fez o desserviço do desacreditamento de muitas instituições e mesmo o voto livre e direto ainda não espelha o quadro ideal de representação que se busca nas classes políticas.

Durante a realização da 18ª Cúpula Ibero-americana realizada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), sob o tema Juventude e Desenvolvimento, foi divulgado relatório que retrata a opinião do jovem latino-americano a respeito da política. Os dados confrontam a realidade dos sistemas em países latinos e o grau de consciência dos jovens a respeito de sua realidade. A informação mais alarmante é que mais de 80% da juventude brasileira está em desacordo com a democracia, com restrições ao processo de representação em seu país. Os mesmos porcentuais podem ser verificados no Equador, Paraguai e Peru.

Uma primeira análise permite acionar o alarme em relação ao futuro político desta geração que caminha para o poder. Ao questionar a democracia como sistema político, os jovens podem estar expressando um alto grau de insatisfação com seus políticos e com os resultados apresentados no atacado. Não surpreende que, dos manifestadamente insatisfeitos, 42% estariam dispostos a tolerar um regime autoritário como alternativa ao desencanto com o regime democrático, reflexo de uma falta de perspectiva quanto às mudanças em curto prazo no sentido da moralização da ação pública.

O mesmo relatório mostra outro lado da consciência dos jovens, contrariando a expectativa de que a nova geração estaria distante da militância política. O fato positivo é que 88% participam ativamente dos processos eleitorais e procuram formas alternativas de ativismo político, envolvendo-se em fóruns sociais, organizações não-governamentais, trabalhos voluntários, iniciativas comunitárias, com especial atenção no foco ambientalista, social e educativo. Este dado revela que, ao contrário do que se pode supor, o jovem latino-americano é envolvido com o seu tempo, é bastante ativo e tem mesmo um conceito de democracia diferente da sua realidade.

De certa forma, o relatório chama a atenção para a nova geração política que está se formando, plena de consciência e disposição de lutar pelos seus ideais. A maneira de ver a ação política difere, felizmente, do quadro que atualmente existe e que a sociedade tem condenado implacavelmente diante de denúncias de corrupção e incompetência. Que seja acionada a rede de influências, com esta nova geração promovendo a esperada e necessária renovação.

(Editorial Correio Popular, 3/11)

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