quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Woodstock, um sonho inventado


A ressaca do dia 18 de agosto de 1969 ainda iria demorar alguns anos para ser percebida. Quando Jimi Hendrix deu os acordes finais de sua apresentação na manhã daquela segunda-feira, e apenas retardatários ainda estavam em meio ao lixo de Woodstock, não acabava um festival. Começava a maior fábula da música pop, alimentando sonhos de várias gerações.

O festival deve ser entendido com a ótica daquele tempo. O filme demorou um ano para chegar ao mercado americano. No Brasil, pouco se ouvia falar do que acontecera, somente os mais ligados no undergound liam poucas notas na imprensa alternativa. Até que o filme explodiu nas telas dos cinemas daqui, com um atraso de ano.

Vocês imaginam o que significa para um jovem de 17 anos que nunca tinha visto clipes de rock entrar num cinema para ver aquele som alto e em cores, sem a mãe berrar para abaixar o volume? Pois eu lembro de ter assistido 23 sessões consecutivas do filme, muitas vezes trancando-me no banheiro do cine Ouro Verde, na rua Conceição, para assistir à sessão seguinte sem pagar ingresso. E ouvia à exaustão os cinco discos em vinil que foram lançados no Brasil - e que guardo com fervor devotado de roqueiro maníaco – recompondo cada passo do que deveria ter sido aquela festa. Até hoje tenho a versão do filme em casa, numa fita quase transparente de tanto tocar, preferencialmente durante um gin tônica ou cuba libre.

Parece exagero? Pois a única coisa próxima do delírio de Woodstock eram os filmes água com açúcar dos Beatles (Hard Day’s Night e Help, hoje geniais para mim), longe da pregação de rebeldia que bem cabia à época. Ou raríssimos vídeoclipes em preto e branco que passavam na TV Cultura nas tardes de domingo.

Explico porque Woodstock é uma fábula. As informações eram raras (lembrem-se, ainda não havia internet) e o material disponível sobre o acontecimento eram recortes das revistas Manchete e Cruzeiro, o filme de Michael Wadleigh e os discos. Ninguém sabia nem mesmo quem tinha tocado e somente depois ficou-se sabendo que o filme, legal, foi bastante mal intencionado.

De resto, sobrava reabastecer os copos, sacudir o corpo e viajar, inventar toda a história. O que aconteceu, na verdade, não tinha a menor importância.

Um comentário:

Odil disse...

Rui, continuo achando que eu nasci na época errada, rs, mas poderia ser pior. Ainda tive sorte e pude acompanhar muitas bandas de rock boas em 1980 e 1990, dos EUA, Inglaterra e Brasil. Já nos anos 2000, que desastre! Lá fora, Emocore, RBD, Britney Spears e um arremedo de Queen lançando um álbum horrível. Por aqui, mais emocore (em português ainda, o que é pior), pagode e o tal neosertanejo, com Bruno e Marrone... É de doer os tímpanos!

PS: vou tentar descolar uma cópia do Woodstock em DVD para vc. E para mim tbém!