A prática do esporte é considerada e aceita por todos como um instrumental perfeito para promover a integração das pessoas, estimular o espírito corporativo, desenvolver aptidões, moldar o caráter dos jovens e contribuir para a saúde pessoal. É através da atividade esportiva que crianças e jovens têm contato com as regras de disputa, ética, cortesia, incluindo a dinâmica de lutar para alcançar objetivos pessoais e grupais, identificação de metas e respeito ao próximo. Some-se a isso que o esporte é desafiador, prazeroso e recompensador.
A mescla de todas essas vantagens faz com que mais pessoas se mobilizem em disputas esportivas que em questões políticas e nacionalistas. Eventos como a Copa do Mundo e Olimpíadas são capazes de motivar multidões ao redor de todo o mundo, gerando um nível de interesse único que derruba fronteiras, barreiras e preconceitos. A disputa gera paixões e pretextos, unindo diferentes e aproximando companheiros, desafiando limites e marcando recordes a serem sucessivamente quebrados, como forma de superação constante.
Um quadro de tamanha magnitude só poderia ser imediatamente cercado de um aparato empresarial de dimensões globais que abarca todas as modalidades, impondo um conceito altamente profissional para os esportistas de elite. Agora, não são apenas os limites do corpo e do tempo que estão à prova, mas a busca pela audiência, pelo patrocínio, pela técnica mais moderna e eficaz, com métodos que nem sempre respeitam as razões, os atletas ou mesmo a ética.
Nesse contexto, torna-se cada vez mais comum a criação, aperfeiçoamento e uso de substâncias e procedimentos capazes de turbinar os corpos, alcançando marcas inimagináveis e elevando o padrão do esporte profissional a um nível acima do possível para qualquer cidadão comum. Ainda que o objetivo esportivo seja investigar até onde pode chegar o desempenho humano, existe um ligeiro consenso de que as medidas estejam se perdendo nas cobranças estendidas aos atletas e equipes.
O recente envolvimento da ginasta Daiane dos Santos em caso de doping afetou muito a imagem dos atletas brasileiros. Somente neste ano foram denunciados 26 casos, mostrando que a busca pelo melhor tempo, marca ou resultado passou a ser uma obsessão para muitos jovens, que se dispõem a quebrar regras, ultrapassar barreiras em nome de notoriedade ou contratos.
Os casos de doping se multiplicam em todo o mundo. Várias conquistas olímpicas foram questionadas e desconsideradas por mostrar que os super-homens das pistas e quadras cederam à tentação de se doparem para atingir aquele momento especial de superação. Triste é imaginar que toda a glória e reconhecimento, ao final, não passam de espanto e surpresa diante de uma máquina suicida que violenta o próprio organismo e subverte toda a lógica positiva do esporte.
(Correio Popular, 5/11)
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